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domingo, 20 de junho de 2010

A MORTE DE UM COLEGA!


Decidir publicar este texto pelos seguintes motivos: a vitimização dos policiais brasileiros é  ignorada pela comunidade acadêmica e naturalizada pela sociedade brasileira, ou seja, os policiais brasileiros não são tratados como seres humanos, pais de família e cidadãos possuidores de DIREITOS E SENTIMENTOS;  pelo fato deste policial já ter tirado dinheiro do bolso para custear as necessidades jurídicas e psicológicas dos seus subordinados, as quais foram desprezadas por quem tem o dever de ampará-los, o Poder Público! E, por fim, além da legitimidade do autor, para mim é uma honra o pedido dele sobre a possibilidade de publicar o texto no meu Blog, pois conheço o seu trabalho e sei que ele reúne os requisitos de um grande Líder. Abaixo, segue o texto.

A profissão de policial tem muitos riscos, fartos momentos de poder ajudar várias pessoas ao mesmo tempo, muitas emoções positivas e muitos momentos para se fazer  reflexões de como se comporta um grupo social. A visão do policial sobre sua comunidade, seja ela em um bairro pobre ou nobre, um conjunto de bairros, estradas ou qualquer outro espaço de atuação, deve ser sempre a visão do guardião, do grande protetor-legal do ser humano, do patrimônio de todos, pois ele é um representante do Estado, que na maioria das vezes chega primeiro ao local da crise e todos  colocam nele ou nela policial, um monte de esperanças para as  soluções do cotidiano. 
 
Dessas enormes emoções, também temos as negativas, que volta e meia chegam para a sociedade e para nós, como uma verdadeira bomba. Elas fazem parte  do grosso do nosso trabalho! Resolver crises da população! Acidentes, roubos, furtos, suicídios, homicídios, brigas de família, menores perdidos ou em ato infracional, outros delitos e ações que não chegam a se constituir crimes, mas geram grandes crises.

No início da carreira, nunca imaginava como deveria ser a dor de um passamento de um colega de farda da mesma Unidade, estando você na posição de Comandante. Principalmente se essa morte ocorre de uma forma que tanto combatemos, que é o crime violento, covarde, que deixa rastro de consternação em muitos e por muito tempo. Caro leitor, quantos enterros de colegas, por acidente de trabalho, você já foi na sua vida?

Lembro que fui fazer uma inspeção administrativa em Paulo Afonso, e tive que participar de dois enterros de dois colegas. Um PM, o outro da Polícia Civil, que foram mortos por marginais em um assalto a banco, em uma cidade próxima. Foi pesado!  Quando a morte de um policial ocorre em outra Unidade da PM, Instituição policial ou localidade, também existe dor e muitas vezes as lágrimas vêm aos nossos olhos, encharcando os nossos corações de amargura e angústia com aquele fato.

Dizem que a morte é a  única certeza que temos, e ela é bastante “democrática”, pois é para todos, em qualquer lugar do mundo, sem observar cor, raça, hora, local, credo, posição econômica, ângulos ou motivos que separam as classes de uma complexa sociedade, como é a nossa.

Crimes, guerras, pessoas dadas a andarem as margens das leis, sempre existirão em todos os locais! A paz mundial é uma utopia eterna!

Como tudo tem a primeira vez, essa dor começa a  acontecer na nossa profissão com os colegas, que morrem nos combates. Vem o aviso, o deslocamento para hospital ou local onde está o corpo, as primeiras lágrimas, a angústia do corredor frio dos hospitais, as primeiras orações, o esforço da equipe médica que não tem partido, os depoimentos a favor, os nervosos – que atrapalham mais do que resolvem algo! – a imprensa, os curiosos, as ligações para saber a situação e a espera! A longa espera! No Hospital a sua dor se mistura a dor de outros que já estão lá, e aos demais que chegam nas ambulâncias.

O que você não quer ouvir, é dito, seja por telefone ou lá mesmo. "Ele não agüentou!" Mais dor, mais tristeza! Mais esforços junto aos colegas do DPT/IMLNR nos trabalhos legais. Todo ser humano deveria um dia assistir uma necropsia! Talvez houvesse mais valor pela vida!

Muitos dizem: “Já não tenho mais força para assistir esses pesados momentos!”

Como é duro escrever sobre esse passado e pesado momento!

Escolha do cemitério pela família, a funerária, tamanho da urna, as flores, os deslocamentos, a imprensa, curiosos, família, amigos e colegas. Mais dor e mais lágrimas!         

Na cerimônia fúnebre, você é mais um, pois perdeu um colega da tropa da RONDESP, um parceiro que morreu cumprindo o seu dever, “defender a sociedade, mesmo com o risco da própria vida”!

Notamos mais as ausências, do que as presenças, pois sempre pensamos que é uma obrigação daquele que faltou está ali, ao seu lado, mas quantas vezes eu e você faltamos? Será que é obrigação?  E a hora que não passa?  Lágrimas, orações, entrevistas, palavras de carinho para a família e até o Comandante recebe os sentimentos. Consternado e sem palavras, agradece as presenças.

As palavras e orações ditas pelo Capelão! E a hora chega, a tampa da urna se fecha, o cortejo sai pelos caminhos sinuosos e estreitos do cemitério. Palavras de ordem são ditas, em respeito ao servidor público morto, o canto da PM, o Hino da Força Invicta é entoado com ardor e calor! É mais um da nossa Centenária Milícia de Bravos que passou para o outro lado da história da vida!

Salva de tiros, torque de corneta, sirene de viaturas e lágrimas, nada disso vai trazer o nosso herói da sociedade de volta, mas é um bálsamo em nossos corações. Mais lágrimas! Obrigado para o colega!

O Comandante pega a alça do caixão. É como se fosse seu amigo, irmão ou seu filho! Mas, é tudo isso, pois no fundo do coração, todos  sabem a importância que teve  seu comandado que passou para o outro lado da vida, pois todos somos filhos de um Grande Pai!

A urna chega ao seu destino! É carregada e nada acaba ali, pois a saudade continua, os trabalhos, as rondas, os crimes,  a dor  da família do falecido, enfim, parecem um filme inacabado. Fica na memória o toque solitário do corneteiro!   Palmas e lágrimas se misturam! Flores acompanham a urna! Algumas palavras que vem do fundo do coração!   
     
             Prefiro o silêncio!
            Prefiro a oração!
       A sociedade precisa valorizar a sua policia! 

Valter Souza Menezes – Major PM
Comandante da Rondesp/Atlântico



quarta-feira, 2 de junho de 2010

SER MILITAR, UMA PAIXÃO INEXPLICÁVEL!


Acho a profissão militar  um sacerdócio, que só pode ser bem exercida e compreendida por quem a ela é conduzido por sincera vocação. Os demais, que objetivam a pura ascensão, dizem ser militares e gozam dos seus direitos, mas  nunca exercerão no seu âmago esta distinta profissão. Ser militar é saber abnegar os prazeres da vida em prol de uma profissão sacrificada que submete a constantes e rigorosas provas o caráter dos soldados de Caxias, nas adversidades de sentimentos e nas provocações angustiosas.

Diversas são às vezes que comportamentos discrepantes, conquanto pareçam contraditórios, definem o pundonor militar nas decisões graves dos momentos difíceis. A dignidade, conforme a circunstância, tanto poderá estar presente no se calar como no se expressar, pois a vida é feita de escolhas e eu fiz a minha, entretanto a comunicação não é o que se escreve, mas sim o que se interpreta; por isso, serei o mais elucidativo possível, a fim de não deixar dúvidas sobre os meus propósitos.

Em relação aos meus dois últimos textos (“EU TENHO UM SONHO: CONHECER A MÃO AMIGA!” e “GENERAL, QUAL EXÉRCITO? O DE MARTE?”), recebi 226 (duzentos e vinte e seis) e-mail, dos  quais 205 favoráveis à minha opinião e 21 contrários, e um contato de um correspondente de uma revista semanal que circula em todo o Brasil para que eu concedesse uma entrevista sobre meu caso. A luz amarela acendeu! Não quero ser o salvador da Pátria, não quero ganhar dividendos políticos, não quero ser algoz de superior, não quero ser “justiceiro” e, principalmente, não quero deixar de usar o uniforme verde-oliva!

Fiz graduação, três pós e um mestrado em Direto não foi para deixar as fileiras do Exército, mas pelo contrário, para poder melhor servir à minha Instituição. A minha dissertação de Mestrado em Direito foi sobre o Exército, tenho artigos publicados na Revista do Exército Brasileiro (REB) e na revista do Clube Militar. Meus estudos sempre foram voltados para a Força Terrestre, abrir mão das minhas horas de lazer para estudar por gosto pela profissão, pois sempre soube que jamais receberia um centavo por isto, mas sim mais missões. Servi OITO ANOS no Batalhão Logístico Escola (Rio de Janeiro)  e lá sempre era escalado para fazer as sindicâncias mais complexas, os autos de prisão em flagrante (APF) e os inquéritos policiais militares (IPM), tudo isso paralelo às minhas missões rotineiras. Quando me apresentei no 3º Batalhão Logístico (Bagé-RS), o comandante da época (Ten Cel Andrade) quando leu meu currículo decidiu criar um Núcleo de Assessoria Jurídica (NAJ), nomeando-me chefe do Núcleo, cumulativamente, com a minha função de Comandante de Companhia. O NAJ de Bagé é uma referência, muitos militares de outros quartéis recorrem a ele, e já foi elogiado até pelo Comando Militar do Sul. Criei um e-mail para ajudar os companheiros dos quartéis em assuntos jurídicos. Em menos de um ano, orientei mais de quinhentos militares, entre amigos e desconhecidos, sobre sindicância, IPM, processo administrativo etc.

Posso até ter cometido injustiças quando disse que tinha o sonho de conhecer a mão amiga, mas me referia, exclusivamente, a atual política pessoal do Exército. Na primeira vez que solicitei transferência para Salvador, disseram que meu pai não era da minha família. Na segunda vez, meu processo sumiu, tive de entrar na Justiça pedindo para ficar em Salvador até aparecer meu processo. Informaram ao juiz que o processo estava no Batalhão de Bagé e ele revogou a liminar, mas até hoje o processo não chegou no Batalhão, entretanto não recorri e desisti do processo por achar que a minha recalcitrância em provar que ludibriaram o juiz poderia me prejudicar ainda mais. Sem contar as duas tentativas frustadas de me colocar como desertor (criminoso)! No meio desta minha “turbulência”, conheci a “mão amiga” do coronel Rogério Rozas que, enquanto estive a seu comando, sempre me orientou; general Villas Bôas e o general Lauro que várias vezes me acolheram de forma cordial, amiga e foram solidários aos meus sentimentos de angústia; e o tenente coronel Ely, não só ele, como toda sua família, me trata de forma bastante amigável, orientando-me para que eu procure seguir o caminho menos doloroso, a fim de que eu possa ajudar da melhor forma possível os meus familiares. Estes militares e muitos outros estarão sempre presentes nas minhas preces.

Em Bagé, continuei cumprindo minhas missões e sempre pedindo a DEUS proteção para meus pais. Não levei meus pais para Bagé pelo fato do meu pai ser subtenente da Polícia Militar da Bahia e seu plano de saúde não ter cobertura fora do Estado. Procurei fazer-lhe um outro plano de saúde, mas pela gravidade de seu quadro clínico não tive sucesso; por isso que não pude levar ele, minha mãe e minha irmã comigo. Quando completei dois anos em Bagé – o requisito para fazer o pedido é ter um ano – pedi transferência para Salvador por INTERESSE PRÓPRIO (arcaria com todas as despesas) e foi feita uma sindicância onde comprovei com laudos médicos a situação dos meus pais (minha esposa e filhas já estavam morando com eles em Salvador) e fui negado pela terceira vez. Desculpe meus amigos, longe de mim querer jogar a opinião pública contra o Exército, mas decidi não me calar por entender que deve ter uma explicação para tanto “não”, explicação esta que não conseguir pelas vias administrativas. Quero saber a razão para tanto “descaso”! Como posso abandonar meu pai em cima de uma cama e minha mãe depressiva com recomendações médicas de não poder sair de casa sozinha? Vocês abandonariam seus pais doentes!? Eu não vou abandonar os meus! Além de ser um ensinamento bíblico e um preceito constitucional, amparar os pais é um PRINCÍPIO MILITAR!

Quanto ao general Santa Rosa, doeu na minha alma lê a entrevista dele. Tinha acabado de chegar do psiquiatra com minha mãe, quando li a entrevista, onde ele afirmava que o Comandante Supremo das Forças Armadas – Presidente Lula – queria implantar no Brasil um sistema comunista e totalitário e que é intolerante com opiniões contrárias as suas, ainda disse que a opinião dele é de 95% dos militares do Exército. Nunca ouvi nenhum militar falar isso! Para mim foi a “gota-d’água”. O presidente Lula, em menos de três anos, deu quase 40% de aumento para os militares e está investindo bilhões para restruturar as Forças Armadas. Posso ter sido bastante incisivo nas minhas palavras em relação ao general Santa Rosa, pois pode até ser que ele não tenha conhecimento dos casos que relatei, entretanto ele era o responsável pela política pessoal do Exército, e eu aprendi nas escolas de formação que responsabilidade não se delega. Aos pouquíssimos que me criticam usando-se do ANONIMATO, tenham coragem e façam igual a mim: coloquem a “cara a tapa” para a Nação brasileira! 

Por fim, afirmo que o Exército brasileiro e seus militares merecem todo o respeito e consideração do seu povo, e eu tenho MUITO orgulho de envergar o uniforme da Instituição que goza da maior credibilidade da sociedade brasileira. Freud dizia que o homem não aceita ver um igual pensar diferente, consolo-me nestas palavras e continuo acompanhando o curso do rio em direção ao mar, pois não existe nada melhor que o tempo!