Nestes meus quase 19 (dezenove)
anos de Exército, comandei milhares de jovens e adultos e compartilhei, de
forma direta ou indireta, das suas alegrias, tristezas, sonhos e
questionamentos. E nesta minha caminhada, percebi que a maioria deles associa
felicidade ao fato de ter bens materiais, especificamente, os “signos de
distinção”. Chamo de signo de distinção produtos que se diferenciam de
similares por ser mais caro. Exemplo: carro Ferrari, tênis Nike, bermuda Ciclone,
relógio Rolex, Perfume Chanel, camisa Lacoste, terno Armani. Nada contra a essa
associação (dinheiro traz felicidade), entretanto sempre me senti na obrigação
de orientá-los sobre as possíveis armadilhas no caminho da “felicidade”.
Na profissão militar é comum um
jovem, de família humilde, ingressar no Exército ganhando R$ 600,00 (seiscentos
reais) e no ano seguinte passar a ganhar R$ 6.000,00 (seis mil reais), aos 20
anos de idade, como tenente temporário. Para mim, fatos como esses me reporta a
um grande desafio, como demonstrar para esses jovens que gastar dinheiro com
estudo é melhor do que com um carro novo? Como frear o ímpeto de um jovem cheio
de sonhos e que, momentaneamente, pode realizá-los? Que apesar de seus pais
sonharem a vida toda em ter um carro, ainda não é à hora de mostrar para seus
pais que ele já pode comprar um carro, e novo? Como convencer um jovem sonhador
a não realizar seu sonho naquele momento?
Iniciei falando da minha
profissão, mais casos de ascensão financeira são mostrados diariamente, na
mídia, quer sejam de jogadores de futebol, atores, dançarinas, cantores, “BBB”,
ou casos menos “midiáticos”, como estagiários recém contratados por empresas
multinacionais. E a pergunta permanece, deve-se viver o hoje sem pensar no
amanhã ou ter paciência e dosar os ganhos? Algo extremamente difícil!
O Governo brasileiro, nos últimos
anos, vem aumento o acesso ao crédito e diminuindo os juros, resultado: o
endividamento das famílias brasileiras vem batendo recordes! Entretanto a “cultura
do consumismo” não para de crescer, incentivando as pessoas a comprar mais e
mais. E nessa avalanche consumidora, os jovens, por falta de experiência, acabam
sendo as maiores vítimas, por terem uma necessidade maior de se estabelecer, mostrar
“poder”, a fim de ganhar prestígio entre seus amigos e amigas. Nas classes mais
baixas, o ápice dos jovens é ter um carro bonito com um som potente. Conheci
uma pessoa, no Rio de Janeiro, que comprou um carro importado em várias
prestações, mas não saia com o carro porque não tinha dinheiro para pagar o
seguro, nem o IPVA.
Diante de fatos como o exemplificado,
cresce de importância uma pessoa próxima para orientá-los para caminhar
conforme suas pernas, planejar a melhor forma de gastar seu dinheiro e saber
investir em si próprio, dando tempo ao tempo. Ensiná-los as causas e as conseqüências
de granjear atenção das pessoas pelo que tem e pelo o que é. Saber respeitar o
tempo, lei da vida, e ao invés de comprar um carro novo, comprar livros e
investir no aprendizado.
O carro pode trazer uma sensação
de prestígio perante outras pessoas, fazer com que muita gente o veja como um
vencedor e até te respeite por isso. Entretanto, o carro vai ficando velho, requer
gasto de manutenção, vai sendo desvalorizado e em breve a pessoa não mais se
satisfaz com ele. Pensa em comprar um melhor e esbarra no fato de que ainda não
pagou o atual. A tal da “vaidade” começa a afetar a autoestima, o instrumento
que viabilizou a sensação de prestígio, passa a ser um problema, como sustentar
o ego sem dinheiro? Muitas vezes pagou, parcelado, três vezes o valor do carro
e não consegue vendê-lo nem pela metade do valor que comprou. Fora as pessoas
que chegam a ter depressão por causa disso e ter que gastar dinheiro com
remédios e terapia.
O estudo ensina muitas coisas
interessantes, certamente proporcionará novas oportunidades e um crescimento
financeiro sustentável. O carro novo? Virá em poucos anos e de forma definitiva.
Mas como fazer esses jovens esperar? Como fazer com que eles troquem um carro
novo e a sensação de bem-estar pelo estudo e a solidão da leitura?
Quando os jovens são religiosos,
acho mais fácil conseguir convencê-los, pois temos exemplos da simplicidade de
Jesus, de Chico Xavier ou os ensinamentos dos Orixás sobre a simplicidade da
vida. Quem não gostaria de poder ouvir os ensinamentos dos sábios? O estudo faz
com que as pessoas se tornem ou aproximem-se dos sábios. As pessoas que se
aproximam de outras que tem bens financeiros, provavelmente se afastam quando
findam as posses, já as pessoas que angariam a simpatia pelo conhecimento,
jamais ficarão solitárias!
Por fim, sempre oriento as
pessoas, compre um carro novo e outros signos de distinção, mas não antes de
ter uma estabilidade financeira e investir no estudo!
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