Atualmente, vêm crescendo de forma acentuada as reivindicações e aspirações em prol de um Brasil mais igual. A busca por esta igualdade, como qualquer manifestação por mudança de status quo, é uma questão política. E a política – como nos ensina João Ubaldo Ribeiro – nada mais é que o exercício de alguma forma de poder.
Zumbi, maior símbolo de resistência, suportou até a sua respiração derradeira o exercício de um poder perverso, que obrigava o negro a ser igual a um animal de carga que tem como dono uma pessoa insensível. Enquanto pode usufruir dos seus serviços, dará comida, água e um pouco de descanso. Quando não mais consegui tirar proveito dele, por já estar moribundo na iminência da morte – esta será precoce devido aos maus-tratos – tentará vendê-lo. Caso não tenha êxito, o seu dono, totalmente desprovido de sentimentos humanos, o abandonará na primeira esquina. Foi contra esta situação análoga à vida de um animal de carga, de dono insensato, que Zumbi liderou milhares de negros para resistir e lutar até por termo às suas vidas.
Superada a situação de escravo de senzala, surgiu o novo desafio: solucionar a discriminação racial incomensurável e pública. Um dos ícones na superação deste novo desafio foi Lima Barreto, pois de uma forma bastante singular, usou o seu perfil intelectual para denunciar e protestar contra uma sociedade discriminante e ingrata às pessoas que a ajudaram a prosperar. No seu romance “Recordações do Escrivão Isaías de Caminha”, Lima Barreto relata a saga de um mulato que sonhava em ser doutor, pois achava que o simples fato de ser portador de um diploma o isentaria de ser discriminado, entretanto será desiludido. Este romance é a tradução da vida dele, pois indignado por não granjear o título de doutor na sua vida, retorna do Rio de Janeiro para o interior e escreve, neste romance, todo o preconceito sofrido por quem tem todos os requisitos para ser vencedor, como, por exemplo, honestidade, inteligência, bondade, sonhos, menos um - a cor.
O racismo ser tratado como crime inafiançável e imprescritível é exemplo de que a sociedade denunciada por Lima Barreto já não mais existe. Entretanto surgem novos desafios: o de superar o insulto social contra os negros – não conheço nenhum ator negro, de telenovela, que nunca fez papel de bandido ou serviçal – e o racismo velado que ludibria as leis. Mas, para superar estes novos desafios, são imprescindíveis políticas públicas afirmativas.
As cotas raciais fazem parte das políticas públicas afirmativas. Contudo o exercício do poder, mediante políticas públicas, faz com aqueles que estão “cedendo” espaço, naturalmente, discordem e criem teorias para defenderem suas posições. Consequentemente surgem os bordões: “não somos racistas”, “no Brasil não tem negros e nem brancos, mas sim brasileiros”, “somos exemplo de democracia racial”. E quando se apercebem que o racismo no Brasil é inquestionável, mudam os bordões: “cotas é racismo às avessas”, “as cotas vão segregar o nosso país”, “as cotas tem que ser para os pobres”, “o Brasil precisa é de uma boa educação”. Assim, “a inveja nossa de cada dia” (Joaci Góes, o mais novo imortal da Bahia), ou os nossos princípios, impulsiona a mobilização em torno de um tema muito polêmico – as cotas raciais – que consegue fazer o brasileiro opinar. É impressionante o alcance do debate, pois, até quem não tem interesse pelo tema emite uma opinião, quer seja a favor, quer seja contra.
As cotas estão fazendo com que os brasileiros dialoguem sobre o racismo e a educação. O racismo sempre esteve presente na sociedade brasileira, e quando reconhecemos o problema, torna-se mais fácil a solução. As cotas estão fazendo com que as pessoas reflitam e concluam que a ideologia da “miscigenação brasileira” naturalizou o racismo através da sua negação. Quanto à educação, “nunca na história deste País” se falou tanto que a educação é a solução, e que os pobres – os negros na sua grande maioria – devem ser educados.
Como acho que todos ganham quando há o debate, afirmo: por trás das cotas raciais, existe algo muito bom para o Brasil!
Olá Professor, sou a favor das cotas, porém, devemos entender que ela é uma medida para amenizar as desigualdades existentes em nosso país, não devendo ser vista como soluciondadora dos probelmas referente a educação. Faço UFBA e este assunto é muito polêmico por lá. Algumas pessoas que são contra, dizem que as cotas ferem a constituição brasileira, mas especificamente o seu artigo 5º que diz que todos são iguais perante a lei. Entretanto, se eu não estiver enganada, a admistração publica se utiliza do princípio da equidade para aplicar as cotas, ou seja, tratar os desiguais de forma desigual, para se tentar chegar a igualdade."
ResponderExcluirAbraços.
Patricia Rodrigues.
Geralmente não acesso Orkuts, msns etc., mas não posso deixar de expressar a enorme felicidade de fazê-lo hoje às 20:30h. Felicidade por "reencontrar" um colega de escola e amigo da vida que para o meu orgulho está trilhando o caminho do conhecimento - no melhor sentido da palavra!
ResponderExcluirSão 23:38 e acabei de ler o seu último artigo. Só posso dizer uma coisa: Bravo! Bravíssimo! Continue o caminho que escolheu trilhar... não se preocupe com os vínculos! Não é porque não tenho religião que não creio em Deus... A nossa luta não é sustentada pela nossa bandeira e, sim, pelo nosso coração!
Espero, em breve, podermos nos encontrar e debater sobre sociedade e afins! Tenha certeza de que motivou mais um combatente!
Todo o sucesso do Mundo!
Com muito orgulho e admiração,
Walderique
Caro Marinho,
ResponderExcluirBelo artigo.
Um lembrete:
João Ubaldo é figadalmente contra as políticas de promoção da igualdade da população negra. Alega que no brasil só existem "brasileiros". E também relativisa o papel dos portugueses no empreendimento escravista. Alega que os negros trazidos para o Brasil como escravos já eram escravos na África (sic).
Vamos em frente!
Abraço,
Jorge da Silva
Sou negra e totalmente a favor das cotas e as considero como um pedido de desculpas a tudo o que o negro passou, desde ser arrancado do seu continente e trazido a um local desconhecido o qual foi submetido as torpezas dos senhores até hoje quando ainda lutamos por uma ascensão na sociedade. E temos que lutar pelo discurso demagogo de que "as cotas têm que ser sociais", deixando a pergunta: Quem vive à margem da sociedade?
ResponderExcluirAbraço, Camila Garcez
Não gosto de falar sobre racismo e nem cotas, porém temos que aprofundar o assunto e tentar arrancar esta pele que não tem cor, mas mágoa e desilusão. Morei nos EUA e lá vi a fundo o que é racismo, eu era o único "branco" que falava com os "negros" e como espírita desde aquela época eu chamava as pessoas para olharem num quarto escuro e dizer qual a cor da pele de cada um. Estudei nos EUA e defendo o que eles fazem, não há cotas nem para brancos nem para negros nem para ricos ou pobres, a escola até o nível secundário é gratuíta e de ótima qualidade, é uma escola para todos, claro que existem escolas para os bem abastados, mas 90% do americano estuda numa ótima escola pública. O que vem depois? Cotas? Não, mérito. O "nosso" Barack Obama não precisou de cotas para estudar na melhor universidade do mundo, apenas apresentou a vida escolar, parafraseando um comercial... Simples assim. Ele nunca botou culpa nos brancos e nem na sua falta de pai e mãe, apenas não teve pena de si mesmo e encarou a vida olhando para frente, não para a cor do seu corpo. Anos depois, se tornou no maior fenômeno mundial de todos os tempos, um presidente negro de descendência africana de 1º grau (o pai era africano), no país mais racista do mundo. Vamos deixar de procurar a culpa nos outros e ver o que fizemos de errado. Será que nossos pais e ou avós não tiveram medo de mudar a política, sim esta que está aí, fazendo demagogias com cotas. Pois vemos no Brasil muitos "negros" em destaque na sociedade(o próprio autor do blog) que nunca precisaram de cotas para estar no lugar onde muitos "brancos" queriam estar. Porém, é claro, os "negros" foram sempre tratado com desdém na sociedade brasileira e cabe mais honra àquele que galga sua posição com anos e anos de estudo e preparo do que chegar de pára quedas em algum lugar. Pior, nesse caso poderá o tiro sair pela culatra, pois quando os sindicatos mais cresceram na Inglaterra foi quando as máquinas surgiram para decepar vários empregos, e assim poderia acontecer uma semelhança, anel nos dedos de muitos "negros" e as empresas pensando que aquele anel foi conquistado mais com o populismo barato da esquerda natimorta que do seu próprio mérito, quem viver verá. Muita gente vai dizer que estou contra os "negros", não, estou ao lado e, se eu fosse um negro não iria querer cotas, iria exigir escolas que me dessem condições de disputar com os "brancos" uma disputa, não um agrado político, e mais, no futuro quando qualquer um for usar o serviço de uma pessoa "negra", lá no seu fundo, você sempre o veria com certa desconfiança, estão apenas empurrando o problema com a barriga. Estudei numa escola técnica e tive vários colegas "negros" muito melhores que eu, verdadeiros bichos de estudar e se capacitar, hoje são grandes engenheiros no Pólo petroquimico da Bahia ou tem uma boa empresa lucrativa, quando falo com eles sobre cotas, eles mudam até de cor...
ResponderExcluirTemos de fazer o mea-culpa. Escravidão na Africa era muito comum. Lá é de fato cultural, mas a Democracia moderna imputou uma relativização de direitos, o que ontem era defenestrado, hoje é aceito com muita normalidade. Vejamos: o que hoje consideramos pedofilia, antigamente era muito comum, qual não foi as avós que nao tiveram filhos com cerca de 12, 13 14 15 anos? Em primeiro lugar temos de fazer um Mea Culpa, de uma questão cultural do passado.
ResponderExcluirOlá Jr
ResponderExcluirVenho aqui dar minha opinião em relação as cotas para para os Negros nas Universidades, sou contra porque vai contra a tudo que vocês estão lutando, sei que vocês passaram por muitas atrocidades na época da escravidão e ainda continuam a passar por essas discriminações, mas mesmo assim eu sou contra, não preconceituoso nem racista, porque acho que existem muitos negros que crescem profissionalmente e pessoalmente com o fruto do proprio suor, na minha opinião ninguém e pior nem melhor que ninguém são todos iguais, e dessa forma estaria se separando duas raças como você mesmo sempre menciona que não deveria existir mas de uma forma ou de outra ir a favor das cotas estaria contribuindo para essa separação de raças e não a igualdade de todos serem chamados de BRASILEIROS.
Bom, que o racismo existe, isso é um fato. O que prego é o direito de todos a Educação. As cotas não garantirão a qualidade do ensino, justamente porque foi facilitado àquele cidadão o ingresso a uma Universidade sem sabermos se o mesmo tem o preparo necessário a isso. Garantindo uma educação de qualidade daremos o direito a todos, e não somente aos negros, de entrarem no ensino superior. Não acredito nas cotas. Acredito na persistência, no esforço e dedicação aos estudos para se chegar a algum lugar. Estudei em escola pública e aos 19 anos ingressei no serviço público. Não obtive sucesso na faculdade pública porque não me dediquei o bastante. Mas, conheço pessoas, como meu irmão, que estudou em colégio público como eu, que conseguiu. A História está aí para confirmar que o negro chega aonde ele quer chegar: Machado de Assis, Lima Barreto, João Cândido, Pelé, Barack Obama e tantos outros. Existem discriminação também contra pobre, contra feio, contra gordo... eles terão cotas também? Chega de camuflar um mal social que é a falta de uma educação de qualidade no nosso país. Deveríamos lutar pela reforma no ensino, para barrar a evasão escolar, pela valorização do professor, pela formação dos jovens para que estes não entrem na criminalidade... mas, isso não rende grandes debates, nem promoção social.
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