Dia 10 de dezembro, é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Esta data é consequência da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Esta Declaração é o primeiro documento internacional que afirma a universalidade dos direitos fundamentais e a IGUALDADE entre todos os seres humanos. O Brasil, como país signatário da Declaração dos Direitos Humanos, é obrigado a promover políticas de igualdade e rechaçar qualquer conduta que mantenha estagnada a desigualdade entre os seres humanos – quer seja econômica, educacional, cultural ou étnica.
Passado mais de sessenta anos da Declaração, as políticas de promoção à igualdade, lamentavelmente, ainda encontra resistência de pessoas que têm um grande poder de formar e modificar opiniões, como o destacado jurista Ives Gandra – professor emérito das universidades Mackenzie e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército – que afirma: “Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios”. Fica a indagação: o quê ele pretende com esta afirmação? Retroceder à época da escravidão? Em plena época que todo o planeta entende que a diversidade e a igualdade entre os seres humanos é o maior bem que a humanidade pode ter, será que ele quer manter o fosso que separa negros e brancos?
Ora, se um eminente jurista, professor emérito de universidade, branco e milionário se acha discriminado, nesta terra de casta e privilégio, o que dirá o homem negro que foi espancado ontem, 12/12/09, em Ribeirão Preto-SP, por três universitários de medicina (Faculdade Barão de Mauá), que foram soltos minutos depois, porque o Juiz entendeu que o fato deles baterem em um homem desconhecido, gritando "toma nego" não caracteriza injúria racista? O que dirá os jovens negros que percebem, nitidamente, que uma pessoa atravessou a rua com medo de cruzar com ele na mesma calçada? O que dirá os 14,2 milhões de brasileiros adultos que são analfabetos? O que dirá os afrodescendentes que quando vêem a coluna social não se identifica fisicamente com ninguém? Ah, falar em coluna social, abordarei, no próximo parágrafo, a história de algumas famílias de imigrantes (obviamente brancos) que fizeram fortunas, algo IMPOSSÍVEL para os negros, pois naquela época (1870 a 1930), ou eles estavam no cativeiro vivendo de pão duro e água fria, ou estavam sendo tratados iguais a animais no Brasil que predominava a ideologia do médico e biólogo francês Louis Couty – política do branqueamento – que afirmava da necessidade de haver, no Brasil, imigração européia para “melhorar” o povo brasileiro.
Das inúmeras famílias brasileiras ditas tradicionais, vou tecer breve comentário sobre a Família Matarazzo, a Família Diniz e a Família Hering. Família Matarazzo: sua história tem início com a chegada de Francisco Matarazzo à cidade São Paulo em 1881. Nascido na província de Salermo, Itália. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros; Família Diniz: sua história começou com a chegada de Valentim dos Santos Diniz à cidade de Santos-SP em 1929. Nascido em Polmares do Jarmelo, Portugal. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros; Família Hering: originária de Hartha, na Alemanha, se estabeleceu em Blumenau-SC em 1878. Imigrante com vantagens dadas pelo Brasil que explorava os negros. Será que o Dr. Ives Gandra não conhece esta parte da história brasileira? Ou será que ele acha que as famílias brasileiras “tradicionais” são descendentes de africanos?
Confesso que este posicionamento do Dr. Ives Gandra ajuda-me a compreender porque o Exército, através da sua Editora (BIBLIEX), publicou, este ano (2009), um livro negando o racismo no Brasil, contrariando as políticas públicas adotadas em um Estado Democrático de Direito. Ora, este Jurista é professor da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, curso obrigatório para quem almeja ascender ao generalato, ou seja, todos os generais do Exército cursaram esta escola, e uma grande parte – dos que estão no Comando atualmente – aprenderam na cartilha deste Professor. Entretanto, prefiro acreditar que a publicação do livro negando o racismo tenha sido uma atitude isolada de algum oficial, embora, como cidadão brasileiro, acredito que a Força Terrestre vai publicar algum livro reconhecendo o racismo no Brasil (não é “camuflando” o problema que iremos resolvê-lo), pois não seremos grande como Nação enquanto existir números estarrecedores – como os divulgados pelo IPEA, PNUD e IBGE – que demonstram, claramente, as distorções entre os negros e os brancos brasileiros.
Concluindo, em um País que é indubitável a dificuldade para o negro progredir, quando um homem branco, jurista renomado, professor universitário e milionário se diz discriminado como cidadão comum, das duas uma: ou ele não quer que o Brasil seja grandioso; ou ele, realmente, está perdendo espaço, pois nesta terra estão acabando com as castas e os privilégios. Por fim, de um Negro para um jurista branco: pela grandiosidade do Brasil, reveja seus conceitos!
Muito bom!
ResponderExcluirRenata Vieira.
(Me perdoe a ortografia, estou em um PC no Uruguai...)
ResponderExcluirExistem situacoes que, se quisermos resolver, temos que comecar hoje e esquecer o passado. Questao racial e uma delas. Em vez de querermos reparar o passado, devemos lutar por um presente mais justo e livre desse podre costume, que e a segregacao racial. Vivo num lugar (acho que voce conhece, Capitao) que tem uma das maiores populacoes negras do mundo, e fora da africa (Salvador, Bahia, Brasil). E aqui testemunho sempre casos de discriminacao racial absurdas. Exemplos: ninguem (quase ninguem) quer ser negro, e sim "moreninho", "jambo", etc. Nas festas, todos querem ir onde tem "gente bonita" (alguns misturadinhos que pensam serem brancos). E por ai vai.
Bem, como foi escrito acima, devemos comecar hoje. Hoje: nao com espirito de revanche, de recalque. E sim com elegancia, superioridade: dar valor ao que e nosso, ao que somos, ao que temos. Comprar de quem quer vender pra negros (tambem). Ler de quem fala (bem ou mal, mas com responsabilidade e imparcialidade)para negros (tambem). Eleger, admirar... Lembrar sempre e ter como referencia nao os artistas esbranquicados daqui, dali. Mas os nossos iguais. Nao ter um falso orgulho, agressivo e que tambem chega a ser recalcado, inferiorizado e segregador.
Ainda chamam negros de preguicosos? Nao devemos nos irritar,pois nao somos. Apenas discordar e rir desses idiotas. E mostrarmos o contrario. Martin, Obama, Zumbi, Ray Charles, Edivaldo Brito, Brown,JESUS CRISTO!So pra citar um centesimo. Intelectuais Arianos, sabem quem sao ou foram eles?... Entao, pra que se irritar? Temos que rir desses catedraticos, pobres coitados.Piedade deles senhor. Eles nao sabem o que fazem. Tampouco o que falam, escrevem...
Bala o seu Blog, Ze Mario!
Esquecendo-me do passado sigo adiante. Concordo com o comentário acima. Se esquecer do passado é algo que nos faz caminhar pra frente. Lembrando que esquecer não é permitir que as pessoas façam o mesmo conosco hoje...
ResponderExcluirAdorei a matéria!!!
Rapaz...
ResponderExcluirSinceramente Amigo marinho, eu me sinto estarrecido, as vezes eu penso que só as armas e o derramamento de sangue poderia acabar com isso!!!
Lamentável!
Belíssimo texto e argumentação, muito proficuo para as discurssões!
Abraão MAcedo
Agora o que me deixa muito triste é que existem seres, ou coisas sei lá do que eu posso chamar esses vermes, que ainda pensem assim!(o comentário do demônio foi nitidamente, conta as ações afirmativas)não se enganem!
Preferiria irmão, que vc estivesse escrevendo sobre a comida de Bagé, mulheres, ou mesmo vinhos!!!
é lamentável, como esses miseráveis já tem tudo e ainda querem mais!
Paz a todos!
cidadão que é branco, faz parte da classe media brasileira, nao é homosseuxal, nao é idoso, como o jurista citado disse, É UMA PÁRIA, SIM, NA SOCIEDADE BRASILEIRA.
ResponderExcluirCapitão Marinho. Não sei o que levou o nobre tratar desse assunto. Todavia, reputo uma pessoa corajosa. Seu comentário a respeito do professor e sobre o livro de ALI KAMEL E SUA SEGUIDORA YVONNE MAGGIE.
ResponderExcluirJÁ TIVE OPORTUNIDADE DE LER OUTRAS MATÉRIAS SUAS. CONTINUE NOS FAZENDO REFLETIR SOBRE ESSA QUESTÃO.
UM ABRAÇO, NIVALDO PEREIRA
DE SALVADOR/BAHIA
Parabéns, nobre capitão! Como sempre: "show de artigo"! Rsrs...
ResponderExcluirBoa colocação!
ResponderExcluirEssa desigualdade vem se refletindo no dia a dia, o caso do auditor fiscal do MTE detido com 1kg de maconha em Salvador e seu amigo com 3kg, balança de precisão e outros objetos demostrou que estamos bem longe de promover essa igualdade. O tratamento de excelência dado a ele pelo Delegado e pela imprensa mostra que esse câncer está longe de ser curado Em nenhum momento ele foi chamado de bandido, apelidado,depreciado, como fazem com os negros e pobres... Que dizer que só tem direitos quem tem a pele clara e se auto denomina “branco”?
Proponho a população baiana a evitar estes programas de TV e jornais, reprimindo esse tratamento e não comprando os produtos anunciados de seus patrocinadores. Pode não ser a solução mas uma forma de demonstrar que estamos atento a isso.
Jorge Alberto
Muito boa leitura! o RACISMO é acima de tudo ama questão que não cansamos de debater, mas que precisamos e devemos combater.
ResponderExcluirO racismo, a falta de postura das autoridades para com o referido assunto e ainda mais, a permissividade de grande parte de nós NEGROS!
Somos responsáveis sim pelo nosso amanhã! Então, vamos buscar nossa força, vamos lutar, vamos tomar nossos direitos com garra!
SOU SUA FÃ CAPITÃO!
Sula
Hoje se você disser ou assumir-se branco, hétero e sei lá o que mais, revela, no mínimo, uma atitude corajosa. Ives Gandra Martins é o maior jurista vivo no país e expressou um sentimento que lhe é próprio e de uma parcela da população. Ninguém teria feito melhor. Conta-argumentar utilizando farda e um currículum pacoviano não só contribui para o caos, como também rejeita qualquer qualidade no ensino, a despeito do enorme pacote de qualidades demonstradas pelo grande "capitão pensador". Aliás, capitão vem de cabeça, que pode ser até do "Equus africanus asinus". Publicar comentários favoráveis não é nada democrático.
ResponderExcluirVivo em um Estado (Bahia) onde sua maioria é negra, mas a discriminação racial é enorme, onde até o cara de pele negra, mas se considera "moreno", discrimina os declarados negros. É um absurdo, quando iremos acabar com isso? O que será necessário para que a diferença da cor da pele não seja sinônimo de discriminação?
ResponderExcluirIrmão
ResponderExcluirSinto-me orgulhoso em ter compartilhado com você longos anos no CPM, desde aquele tempo vocÊ sempre mostrou-se um formador de opinião sensato e conhecedor dos seus limites.
Parabéns continue assim procurando fazer a sua parte por um Brasil mais justo.
Sorte
Do amigo VASCONCELOS
Uma Nação Forte é constituída de indivíduos com ATITUDES coerentes e alinhadas a um propósito/objetivo. O objetivo de uma Nação Forte é a autossuficiência dos seus indivíduos, e vice-versa. Atitudes coerentes são ações planejadas/pensadas, tipo esta reação do Capitão Marinho a uma posição de um jurista renomado (que vai de encontro ao desejo da maioria de qualquer povo: Liberdade, Diversidade, Igualdade, Fraternidade). Tais princípios apontam para um indivíduo que precisa do outro, mas que não depende desse outro para custear sua segurança alimentar, seus produtos de higiene pessoal, seu aprimoramento intelectual ou seu lazer.
ResponderExcluirNenhuma conquista é para sempre se não for consequência de debates, dúvidas, lutas ou batalhas inteligentes.
Capitão Marinho, Você é um desses poucos Guerreiros com qualidades suficientes para Liderar um Exército de oprimidos que precisam ser encorajados para conquistarem a própria libertação (das amarras que os mantém presos a uma realidade injusta, triste e desigual, que é a pobreza, no sentido mais literal).
Eis aqui mais um adepto da sua Luta Pacífica, Inteligente e Corajosa.
Parabéns pela Matéria!