CONTATO

PARA CONHECER OU COMPRAR MEU LIVRO, "EXÉRCITO NA SEGURANÇA PÚBLICA", ACESSE:
http://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=22065

domingo, 2 de maio de 2010

REPARAÇÃO: POR QUE VEJO CHIFRES NA CABEÇA DE CAVALO?



Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou a apreciação sobre a extensão da “Lei de Anistia” para os crimes de tortura cometidos durante os governos militares (1964-1985). Serão ou não anistiados as pessoas que torturaram? Paralelo a apreciação do STF, as indenizações pagas pelo Governo Federal às vítimas do regime militar já chegam a quantia de R$ 10.000.000.000,00 (dez bilhões de reais). Dos indenizados com o dinheiro público, 90% são brancos e de classe média alta (leia-se ricos). Não vou entrar no mérito da questão se são ou não justos os valores indenizados, muito menos valorar os requisitos colocados para que as pessoas façam jus à reparação financeira. Entretanto vou fazer uma indagação: e os negros que foram torturados da forma mais bruta já vista pela humanidade – escravidão – sem chances de se organizarem, de se armarem ou de se exilarem em Paris, por que seus descendentes não fazem jus à reparação ou indenizações milionárias?

Na Bahia – o estado com a maior população negra fora da África – nunca teve um governador negro (2014 espero escrever: “NÓS PODEMOS!”), nem senador. O Presidente do Olodum (João Jorge) contando com o apoio explícito de, além de outros notórios, Vovô do Ilê e Carlinhos Brown, duas “entidades” baianas reconhecidas internacionalmente pelos serviços prestados para o desenvolvimento dos negros, não conseguem legenda para que João Jorge seja candidato a senador no partido que aposta no desenvolvimento sustentável e na diversidade. Querem Marina Silva na presidência, mas não querem João Jorge no senado? Como explicar esta contradição? Ou “eles” acham que os milhares de jovens que consolidaram sua cidadania nas oficinas de arte, música, dança, teatro e escola do Olodum não contam por que são negros? João Jorge, além de ser um empreendedor e personalidade de sucesso reconhecido mundialmente, é mestre e está concluindo seu doutoramento em Direito pela Universidade de Brasília. Será que o “Partido” está julgando ele como julgaram o personagem retratado por Lima Barreto no livro “Recordações do Escrivão Isaias Caminha”, há mais de cem anos atrás? Tem bom caráter, capacidade intelectual, competência comprovada, estudioso, mas não serve porque é negro?

Voltando a questão da anistia e indenizações milionárias, o General – chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército – que criticou a “Comissão da Verdade” dizendo que era uma comissão de calúnia e revanchista, foi exonerado imediatamente após a crítica! Porém alguns militares aproveitando do cargo publicaram pela editora do Exército (BIBLIEX) um livro negando o racismo no Brasil, com dinheiro da União e afrontando diretamente políticas públicas de afirmação adotadas pelo Governo Federal. Ninguém foi exonerado, ressarciu o erário ou houve qualquer atitude para amenizar o retrocesso financiado com dinheiro público. Até quando a questão racial e os negros serão tratados com invisibilidade e desprezo? Quem ganha com a falta de diversidade e ausência de políticas públicas que promovam a igualdade? Todos perdem!

Quando lembro que a imprensa carioca infernizou o governo de Benedita da Silva, chamando-a de irresponsável e incompetente, por causa do desabamento ocorrido na região serrana que matou duas pessoas no primeiro mês do seu governo, e que essa mesma imprensa nada comentou em relação à responsabilidade ou competência do Governador, que está a três anos e quatro meses no cargo, por ocasião da morte de centenas de cariocas soterrados, penso: será que este tratamento dispensado a Benedita é resultado dela ser negra? Quando lembro que a ministra Matildes Ribeiro deixou o cargo pressionada por ter cometido um engano no uso do cartão corporativo, diante de casos de desvio de dinheiro público que são descobertos diariamente e acabam em “pizza”, me questiono: será que ela teve este fim pelo fato de ter desenvolvido um bom trabalho em prol da promoção da igualdade racial? Por fim, quando vejo ricos recebendo indenizações milionárias por terem sofridos ou serem descendentes de quem sofreu “torturas” e vejo descendentes de escravos lutando para ter acesso as universidades públicas (cotas) ou para permanecerem nos seus quilombos, reflito sobre reparação: por que vejo chifres na cabeça de cavalo? 

6 comentários:

  1. Adorei o texto, muito bom mesmo, aliás todos os textos os quais vc escrevem são sempre muito interessantes eu sempre leio todos que vc me envia. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. A partir do final do século XVIII, o tráfico de africanos para a Bahia se intensificou e se concentrou na região do Golfo de Benin, sudoeste da atual Nigéria. Foram importados milhares de escravos, vítimas de revoltas políticas, conflitos étnicos e guerras relacionadas com a expensão do Islã na região. Esses africanos eram principalmente Iorubás ( aqui chamados Nagõs), Ewes, Jejes e Haussás. Uma vez esses africanos na Bahia promoveram, separados ou combinados, mais de uma dezenas de revoltas e conspirações ao longo da primeira metade do século XIX. A mais importante delas foi o levante de 1835, que foi a revolta dos Malês uma rebelião escrava liderada por escravos muçulmanos e quando terminou a rebelião foram julgados e condenados, alguns a morte, outros a prisão nos galés ( antiga embarcação de guerra), vários escravos e libertos foram deportados e outras punições exposta pelo Governo contra os escravos e libertos na Cidade de Salvador e depois desta revolta na Bahia foram feitas várias leis no Brasil, para restringir mais ainda a vida dos escravos e libertos no nosso País. Ainda o principal argumento dos escravocratas ao tratar da questão servil teria sido o princípio liberal do direito à propriedade. Isso não quer dizer que o racismo não fizesse parte do jogo social e, sim, que supostas diferenças raciais não foram as principais justificativas para a escravidão no Brasil. Infelizmente a história da escravidão não se encerrou em 1888, prolongou-se tragicamente em sua vida e na memória da sociedade brasileira. Eu sou descendente de escravos, sou afro-brasileiro cadê a minha indenização meus ancestrais lutaram contra a desigualdades sociais e todas as atrocidades, nos mais de trezentos anos de escravidão.

    ResponderExcluir
  3. Boa noite Capitão! Minha continência! Nessa semana em que foram comemorados 122 anos de abolição da escravatura, está mais do que provado que a igualdade racial em nosso país é um desejo muito longe de ser alcançado. A mentalidade dos individuos estão impregnadas de preconceito que corroboram para que o negro ainda seja marginalizado. Lendo o seu artigo, no qual o senhor falou das indenizações que não foram estendidas aos que sofreram as atrocidades do periodo escravista, entendo a abolição como uma manobra meramente econômica imposta ao Brasil pela Inglaterra para a obtenção de um maior mercado consumidor através da inserção do negro no mercado de trabalho como assalariado. Porém o que se viu foi a expansão da lavoura de café e a consequente imigração de europeus para o sul do país, onde para estes foram reservados os melhores terrenos em regiões prósperas, com clima adequado com incentivos para a produção, face ao abastecimento do mercado interno com o crescimento das camadas urbanas. Nesse contexto, o que restou para os negros? O mercado informal, os aglomerados urbanos insalubres e com péssimas condições de sobrevivência, foi assim, a forma que a elite encontrou para presentear aqueles que por 300 anos foram explorados, humilhados e rejeitados pela classe dominante.

    Me desculpe, mas as vezes tenho vergonha de ser brasileiro.

    José Tadeu Souza Marques
    SD PM/BA

    ResponderExcluir
  4. para com essa palhaçada de discriminação vc vê mesmo cifre na cabeça de cavalo, porque o negro isso o negro aqilo, poxa não existe discriminação no país, mas qualquer "pingo" que acontece...é porque eu sou Negro. Pára!! Até quando vocês vão acabar com essas desculpinhas??

    ResponderExcluir
  5. A discriminação no Brasil é velada e escondida, assim como a coragem do "anônimo", acima.

    ResponderExcluir
  6. Talvez João Jorge tenha escolhido um partido que não apoiasse as suas causas. E por conta disso mesmo, acredito eu que ele não faça mais parte do PV e tenha procurado outro que atenda as suas necessidades politicas e ideologicas!

    ResponderExcluir